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arvores da floresta tropical podem estar morrendo mais rápido desde a década de 1980 por causa dasmudanças climáticas - estudo
Esta pesquisa descobriu que as taxas de mortalidade de a¡rvores tropicais dobraram nos últimos 35 anos, a  medida que o aquecimento global aumenta o poder de secagem da atmosfera.
Por Oxford - 23/05/2002


A rela­quia da floresta tropical do nordeste da Austra¡lia éuma das mais antigas florestas tropicais mais isoladas do mundo. Crédito da foto: Alexander Shenkin

As a¡rvores tropicais nas florestas tropicais da Austra¡lia estãomorrendo no dobro da taxa anterior desde a década de 1980, aparentemente por causa dos impactos clima¡ticos, de acordo com as descobertas de um estudo internacional de longo prazo publicado na Nature hoje. Esta pesquisa descobriu que as taxas de mortalidade de a¡rvores tropicais dobraram nos últimos 35 anos, a  medida que o aquecimento global aumenta o poder de secagem da atmosfera.

A deterioração dessas florestas reduz a biomassa e o armazenamento de carbono, tornando cada vez mais difa­cil manter as temperaturas de pico globais bem abaixo da meta de 2°C, conforme exigido pelo Acordo de Paris. O estudo de hoje, liderado por pesquisadores do Smithsonian Environmental Research Center e da Oxford University , e do French National Research Institute for Sustainable Development (IRD), usou registros de dados exclusivamente longos de todas as florestas tropicais da Austra¡lia.

Ele descobre que as taxas médias de mortalidade de a¡rvores nessas florestas dobraram nas últimas quatro décadas. Os pesquisadores descobriram que as a¡rvores vivem cerca de metade do tempo, o que éum padrãoconsistente entre espanãcies e locais em toda a regia£o. E os impactos podem ser vistos já na década de 1980, de acordo com a equipe.

"As a¡rvores vivem cerca de metade do tempo... em todas as espanãcies e locais da regia£o. E os impactos podem ser vistos já na década de 1980"


David Bauman, ecologista de florestas tropicais do Smithsonian, Oxford e IRD, e principal autor do estudo afirma: “Foi um choque detectar um aumento tão acentuado na mortalidade de a¡rvores, sem falar em uma tendaªncia consistente em toda a diversidade de espanãcies e locais Na³s estudamos. Uma duplicação sustentada do risco de mortalidade implicaria que o carbono armazenado nas a¡rvores retorna duas vezes mais rápido para a atmosfera .'

O Dr. Sean McMahon, Cientista de Pesquisa Saªnior do Smithsonian e autor saªnior do estudo, aponta: “Muitas décadas de dados são necessa¡rias para detectarmudanças de longo prazo em organismos de vida longa, e o sinal de uma mudança pode ser superado pelo rua­do de muitos processos.'

"Os sistemas naturais da Terra podem estar respondendo a smudanças climáticas hádécadas"

Dr. David Bauman, Oxford, e Dr. Sean McMahon, Smithsonian.

Os Drs. Bauman e McMahon enfatizam: “Um resultado nota¡vel deste estudo éque, não apenas detectamos um aumento na mortalidade, mas esse aumento parece ter comea§ado na década de 1980, indicando que os sistemas naturais da Terra podem estar respondendo a smudanças climáticas por décadas.'

O professor de Oxford Yadvinder Malhi , co-autor do estudo, aponta: “ Nos últimos anos, os efeitos dasmudanças climáticas nos corais da Grande Barreira de Corais tornaram-se bem conhecidos.

“Nosso trabalho mostra que, se vocêolhar para a costa a partir do recife, as famosas florestas tropicais da Austra¡lia também estãomudando rapidamente. Além disso, o prova¡vel fator determinante que identificamos, o crescente poder de secagem da atmosfera causado pelo aquecimento global, sugere que aumentos semelhantes nas taxas de mortalidade de a¡rvores podem estar ocorrendo nas florestas tropicais do mundo. Se for esse o caso, as florestas tropicais podem em breve se tornar fontes de carbono, e o desafio de limitar o aquecimento global bem abaixo de 2°C se torna mais urgente e mais difa­cil.'

"As famosas florestas tropicais da Austra¡lia também estãomudando rapidamente... o prova¡vel fator determinante que identificamos... sugere que aumentos semelhantes nas taxas de mortalidade de a¡rvores podem estar ocorrendo em todas as florestas tropicais do mundo"

Professor Yadvinder Malhi

Susan Laurance, professora de Ecologia Tropical na James Cook University, acrescenta: “Conjuntos de dados de longo prazo como este são muito raros e muito importantes para estudar asmudanças nas florestas em resposta a smudanças climáticas. Isso ocorre porque as a¡rvores da floresta tropical podem ter uma vida tão longa e também que a morte das a¡rvores nem sempre éimediata.'

Estudos recentes na Amaza´nia também sugeriram que as taxas de mortalidade de a¡rvores tropicais estãoaumentando, enfraquecendo assim o sumidouro de carbono. Mas o motivo não éclaro.

As florestas tropicais intactas são grandes depa³sitos de carbono e atéagora tem sido 'sumidouros de carbono', atuando como freios moderados na taxa de mudança climática, absorvendo cerca de 12% das emissaµes de dia³xido de carbono causadas pelo homem.

Examinando as variações climáticas das espanãcies de a¡rvores que apresentam as maiores taxas de mortalidade, a equipe sugere que o principal fator clima¡tico éo crescente poder de secagem da atmosfera. Amedida que a atmosfera aquece, ela extrai mais umidade das plantas, resultando em aumento do estresse ha­drico nas a¡rvores e, finalmente, aumento do risco de morte.

Quando os pesquisadores analisaram os números, mostraram ainda que a perda de biomassa desse aumento de mortalidade nas últimas décadas não foi compensada pelos ganhos de biomassa do crescimento das a¡rvores e do recrutamento de novas a¡rvores. Isso implica que o aumento da mortalidade se traduziu em uma diminuição la­quida no potencial dessas florestas para compensar as emissaµes de carbono.

O artigo foi publicado na quarta-feira, 18 de maio, na Nature , a principal revista cienta­fica multidisciplinar do mundo. O estudo seguiu o destino de mais de 8.300 a¡rvores ao longo de 50 anos de dados em 24 parcelas permanentes de floresta tropical aºmida. O artigo pode ser encontrado em   https://www.nature.com/articles/s41586-022-04737-7 após o levantamento do embargo.

A equipe de pesquisa incluiu colegas da Universidade de Oxford, Universidade James Cook (Austra¡lia) e outras instituições (Reino Unido, Frana§a, EUA, Peru).

 

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